Graças a essa actividade que me preenchia a casa com dezenas de espécies e centenas de animais, houve uma meia dúzia de seres vivos que mereceram a minha especial atenção. Não foi apenas a minha, porque a Ana Braz, minha companheira, esteve sempre presente com o mesmo entusiasmo, chegando a tirar Cursos de Veterinária, especialmente na área técnica. Uma das espécies que mais nos encantou, é o mote para este texto: os Petauros do Açúcar!
Chegaram a Portugal há alguns anos atrás, mas têm estado escondidos do olhar do público. Para uns, os Petauros são como morcegos, feios e assustadores; para outros, são ratinhos estranhos e engraçados...
(Cria de Petauro, ainda muito jovem)
Mas afinal, o que são? Como vivem e de onde vieram?
O Petaurus breviceps apareceu na Terra há cerca de um milhão e seiscentos mil anos (1.600.000), no período do Quaternário Pleistoceno, juntamente com outros roedores maiores como o Castor, a Capivara e o Porco-Espinho. Desde então, e até aos dias de hoje, têm sobrevivido graças ao facto de saltarem e planarem de árvore em árvore, evitando assim os principais predadores do solo. Foram encontrados fósseis desta espécie de Petauros, ou Sugar Gliders, como lhes chamam os australianos, especialmente na costa Este da Austrália.
(Mapa de origens dos Petauros)
Os Petauros do Açúcar são originários dos bosques do Leste e do Sul da Austrália, Tasmânia e Indonésia (Papua-Nova Guiné). No estado selvagem vivem em grupos de 8 a 12 individuos e dormem todos juntos em buracos de árvores, ou em ninhos feitos no meio da vegetação. O macho dominante demarca o seu território através de glândulas odoríferas e, quando saltam de uns ramos para os outros, podem planar entre 50 a 100 metros graças à membrana – patagium - e à cauda que lhes serve de leme. Alimentam-se de pequenos insectos, vermes, folhas, frutos de algumas árvores e seiva que recolhem dos troncos, mas em cativeiro, como animais de estimação, tudo é muito diferente.
Não estamos na Austrália, não temos o mesmo clima nem a mesma flora, por isso, graças a alguns cuidados muito especiais, os Petauros podem viver 12 a 15 anos nas nossas casas, enquanto que livres, no seu habitat natural, dificilmente passariam dos 6, ou 7 anos de vida.
Frequentemente confundidos com Esquilos Voadores, os Petauros não são roedores, nem pertencem à família dos Esquilos, são apenas Petaurus; esse é o nome científico do Petauro do Açúcar, Petaurus breviceps. Surgem-nos como animais únicos e, na realidade, assim acontece, uma espécie única e com características próprias.
Taxonomia
dos Petauros
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Subfilo: Vertebrata
Classe: Mammalia
Ordem: Diprotodontia
Familia: Petauridae
Género: Petaurus
Espécie: Petaurus breviceps
Os
nativos das florestas australianas, consoante sejam de uma zona ou de outra,
chamam a estes Petaurus, nomes como Tupai ou Sege-sege, mas são sempre os
mesmos animais.
A
Austrália fechou as portas à saída de animais da sua própria fauna natural, mas
muitos criadores europeus têm espalhado estes deliciosos companheiros pelos
nossos lares, apesar de serem ainda algo raros e difíceis de encontrar à venda
nas nossas lojas de animais.
(Um dos nossos primeiros Petauros)
Se pudessemos andar sempre com um animal de estimação no
bolso, os Petauros seriam sem dúvida alguma, os eleitos. São animais sociáveis,
activos, limpos e inteligentes. Requerem bastante atenção do seu dono e alguns
cuidados, mas nada de complicado. São robustos, normalmente não têm problemas
de saúde e reproduzem-se com facilidade em cativeiro. Quando adquirida a confiança
deles, adoram o contacto físico com os donos e gostam de dormir uma sesta num
bolso junto ao corpo, enquanto pesquisa na net, lava a loiça, ou vê televisão. É
um animal cheio de charme e ternurento que pode até reconhecer o próprio
nome quando o chamamos. Mas claro, tudo isto requer muita dedicação.
Sempre que se decida adoptar um ou dois Petauros (o
ideal é sempre um casal e não um único exemplar), há que preparar tudo o que é
essencial, pois são animais com necessidades especiais.
(Petauro adulto na mão da Ana)
No que respeita à alimentação, encontramo-los (infelizmente) com alguma frequência a serem alimentados com comida para hamsters, basicamente suportada por semente girassol, o que representa um excesso de gordura e uma carência de cálcio, fósforo, vitaminas, proteínas e outra diversidade alimentar que tanta falta lhes faz. É especialmente em lojas menos especializadas que vemos isto acontecer, pois em casa, graças a alguma informação que vamos conseguindo transmitir, os Petauros são alimentados com dietas mais adequadas às suas necessidades: frutas, legumes, frutos secos, insectos, mel, papas para bébé, cereais e muitos outros alimentos preparados na hora.
Poderia
ficar horas e horas a falar sobre Petauros, pois tal como acontece com o ser humano,
cada elemento é único e nem todos gostam dos mesmos alimentos, dos
mesmos brinquedos, ou das mesmas pessoas.
(Os Petauros são marsupiais. Na foto, a Ana mostra uma cria regressando
à bolsa marsupial da mãe, depois de ter saído e dado como nascido "Out Of Pounch")
A reprodução
dos Petauros é algo muito especial para os amantes de espécies exóticas, pois
estamos a lidar com Marsupiais. O período de gestação é muito curto: cerca de
16 dias apenas, o que significa darem à luz crias muito pouco desenvolvidas. Após esse
tempo, as crias que nascem naturalmente, percorrem o caminho até à bolsa da mãe, o
marsúpio, onde vão permanecer durante cerca de 60 a 70 dias.
(Esta fotografia, tirada por mim nas mãos da Ana, é pelo que sabemos,
a ÚNICA Fotografia do Mundo onde pode ver-se um Petauro,
acabado de nascer e percorrendo em 2 minutos, o caminho que liga
a saída da vagina, à bolsa marsupial onde vai ficar durante 2 meses.)
Pormenor ampliado onde se vê o pequeno feto, vivo, andando para a Bolsa Marsupial.
Repare-se no tamanho da unha da Ana e imagine-se quão pequeno é o bébé.
Note-se ainda o voto de confiança desta mãe que é capaz de parir, de papo para o ar,
na mão da própria dona. É um momento único de emoção e sentimento!
NUNCA ninguém vira isto antes, e dificilmente voltará a ser visto assim!
Estas fotos nunca foram publicadas noutro local e não podem ser usadas,
sob qualquer pretexto, sem a minha autorização escrita!
Quando
entram pela primeira vez na bolsa da mãe, o tamanho delas é aproximadamente o
mesmo de um bago de arroz tufado, o que faz com que muito raramente nos
consigamos aperceber desse facto. O trajecto é efectuado em menos de 2 ou 3 minutos,
e durante o período de tempo que permanecem na bolsa, nós vamos detectando o aumento de volume da barriga da mãe.
Em circunstâncias normais, nunca nos
apercebemos do momento em que os bébés nascem, realmente, e fazem o percurso sozinhos até à bolsa da mãe.
Os pequenos joeys, nome dado aos Petauros até à altura do desmame, irão terminar o desenvolvimento
dentro da bolsa da mãe onde continuam a alimentar-se através das mamas situadas dentro do marsúpio. Dois meses após sairem da bolsa, já
deverão conseguir fazer tudo sozinhos, mas só
atingem a maturidade sexual entre os 7 meses e 1 ano de idade.
(Cria saída da bolsa, dizendo nós que nasceu, ou OOP)
Na natureza, o
período de reprodução dá-se entre a Primavera e o Verão; no entanto, em
cativeiro, pelo ambiente dos nossos lares, podem criar ao longo de todo o ano tendo
até três ninhadas anuais. As fêmeas têm 4 mamas, com as quais, teoricamente,
podem amamentar 4 crias, mas o normal é que o número de nados por parto seja de
2, raramente 1 e mais raramente de 3. Não se conhecem partos de 4 crias.
A partir do
dia em que saem da bolsa pela primeira vez, é contado o nascimento e
designado por OOP, do inglês Out Of Pouch.
De início,
por serem muito pequenos, podemos retirá-los do ninho por breves momentos e à
medida que o tempo passa podemos ir aumentando gradualmente o tempo que os
temos cá fora, para que se vão habituando a nós e assim a domesticação seja
mais facilitada.
(Jovem adulto, confortavelmente instalado sobre o meu peito)
Quanto mais jovens forem os Petauros adquiridos, maior será a confiança
estabelecida com os donos; o mesmo pode dizer-se dos laços de amizade que
chegarão a criar-se entre eles e os seus protectores. Petauros Selvagens,
raras vezes chegam a desenrolar um grau de confiança suficiente com os donos,
pelo que devemos sempre adquirir animais criados em cativeiro.
Se adquirirmos petaurinhos bébés, joeys até aos dois meses OOP, a comunicação e a
domesticação serão mais fáceis. Até porque os adultos guardam memórias das
experiências anteriores e se não soubermos como foram tratados, é melhor termos
cuidado e muita paciência.
(A Ginger, em casa, na mão da Ana. Uma relação de mãe e filha!)
Os Petauros são animais nocturnos e por isso temos que respeitar o seu sono
durante o dia. Porém, requerem que lhes dediquemos algum tempo sempre que
estão acordados e não apenas uns breves minutos. Nunca aprendem a usar uma
caixa de areia como os gatos, razão pela qual é provável que, ocasionalmente,
os nossos pequenos possam fazer as necessides em cima de nós quando lhes
pegamos. Não deixem que estes inconvenientes tornem estes animais um
aborrecimento. Nada estaria mais longe da verdade! Um Petauro devidamente
educado é muito carinhoso com os seus donos. Fica encantado por dormir
num dos seus bolsos, trepar por eles acima e brincar. São criaturas muito activas e
inteligentes e a maioria daqueles que têm Petauros cada vez gostam mais deles.
(Encantadores, não são. Esta era a minha Kali)
Esta é mais uma das minhas vidas: a criação, estudo, desenvolvimento de alimentos e rações, sites, fóruns, exposições, palestras e divulgação nacional da espécie. Criámos ainda, o único Centro de Registo de Petauros Mundial, excelente para estudo estatístico da evolução da espécie em cativeiro! Uma vida preenchida, hoje sentida no passado, sem Petauros em casa, mas eternamente presentes no meu coração! Parapolitizóia!
Autoria das Fotos: O Mundo dos Petauros (O NINHO)
(Capa do meu livro dedicado a esta espécie.)
(Ainda não disponível para compra e assinado pelo heterónimo Dr. Costados)
Não adquira um Animal se não estiver preparado para o fazer.
Abandonar um Ser Vivo é crime, mas tratá-lo mal também.
Abandonar um Ser Vivo é crime, mas tratá-lo mal também.









gostaria de adquirir o livro
ResponderEliminarestou interessado num casal de petauros
Queria saber tudo o que e possivel sobre estes animais
Antonio Reis
Agradeço o interesse no meu livro, mas na verdade, e tal como referido no meu texto, ainda não está pronto para publicação. Obrigado.
EliminarMoro em Lafayette na Louisiana, e hj no shopping, cheguei a chorar, ao me deparar com um quiosque cheeeeio de pessoas em volta, e vendedores expondo esses pequeninos, que tremiam ao serem expostos.Odiei o que eu vi, e queria que isso fosse proibido.
ResponderEliminarEu continuo a defender o velho lema: Se não tem condições para os ter, então não os tenha mesmo!
EliminarHoje, mais do que antes, defendo imenso a sua vida em liberdade, no Selvagem, mesmo sabendo que provavelmente irão viver cerca de metade do tempo que viveriam se fossem cuidadosamente criados.
Existem Estados americanos onde a posse, venda, ou captura de Sugar Gliders...